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24/07/22

Série: Meus Poetas (605)

 

Bom Dia Poético com Diogo Borges

(Rio de Janeiro / RJ)

 

Coreografias

para dançar na pele

uma coreografia da língua

termine íntimo o tato

que desborde a calma

e desalinhe a cama

 

se lá fora a chuva fina

aduba a manhã

dentro o afeto rima

e adormece o corpo

sobre a trama

 

depois do almoço

um café e toda a tarde

conhecendo a geografia desse corpo

 

a dança das mãos batendo as cinzas

um sorriso torto

o olhar querendo a noite na retina

 

para dançar na língua

uma coreografia da pele

a palavra seja o fogo

que comece no poema

a liberdade de soltar escama e crina

 

se o touro à noite se levanta

arrebenta e cerca

arde em chamas

queima o pasto da palavra

que rumina

 

depois da noite

o vento atiça os cabelos

no despenhadeiro da madrugada e faz feitiço

 

essa coisa de dançar

embaraça

e dá viço.

 

 


23/07/22

Série: Meus Poetas (604)

 

Bom Dia Poético com Sônia Maria Mazzei

(Rio de Janeiro / RJ)

 

A noite

Deu-me a lua

E tempo

Para os livros

Sigo em vigília

Pelo prazer

Do rito

Do manuseio

E, por amar

Cada palavra,

Eu suponho

Mudei de vez

A hora

Dos meus sonhos.

 


22/07/22

Série: Meus Poetas (603)

 

Bom Dia Poético com Igor Fagundes

(Rio de Janeiro / RJ)

 

Romântico

 

 

sem repetir a mesma lenga-lenga

de sempre: “até que a morte nos separe”

ou “acho que encontrei minh’alma gêmea”

e qualquer outro papo assim, melado

que faz diabético o mais gordo poema

 

sem engolir o leite derramado

quando, à francesa, o amor disfarça e vai

embora, eu avisei: não faça tratos

com estranhos, sentimentos que nos traem

nas horas em que a gente arrisca planos

em vão e vem o pranto, um ai-ai-ai

 

curta seu love, tire uma casquinha

amar é sair junto, ao cine e após

tomar um ice cream numa pracinha

e nele derreter-se, ao sol, e a sós

lembrar: fugaz também a “rapidinha”

 

forjada à noite, num motel de quinta

onde, depois do orgasmo, o nojo, o podre

nos corpos que se afastam, se reviram

cada um para o seu lado, ufa, acabou-se:

“melhor pedir a conta, amor, se vista!”

 

 


21/07/22

Série: Meus Poetas (602)

 

Bom Dia Poético com Verônica Ramalho

(Santos / SP)

 

(Jardim)

 

Lambidas pardas cortam a névoa,

recendem cáseos.

 

A flora muscular fede.

 

Saburra é escudo e espelho pro cheiro forte,

miasma intenso atordoa.


Lambidas desordenadas se esbarram,

alvoroço, indisposição e calor.


Corpos em leque, as plantas abanam.

 

Aragem distribui e dispersa o azedo,

sopro manso.

 

Assobio simula coro, aravia.

 


20/07/22

Série: Meus Poetas (601)

 

Bom Dia Poético com Gabriel Meneses Barros

(São Paulo / SP)

 

Amor de frente

 

Preciso encarar o Amor de frente

Como essa coisa que altera a gente pra sempre

Feito trem passando rápido tremendo a terra

Feito o sim no dia do casamento

Feito tropeçar na frente de todo mundo

Feito engolir a seco tuas dores

Não tem volta com o Amor

Põe tudo em cheque

Mate de toda certeza

Levante de toda angústia

Perdi de si e achamento de outro Eu

Tudo novo na velhice caduca do mundo

 

Preciso olhar o Amor de frente

Ver seu riso frio-ardente

Contemplar seus longos mistérios

Me encantar com algo sem forma

Pois todo Amor desconfigura o real

Desalinha tudo por completo

Torna tudo tão estranho

Imagens falhas fracas foscas

De si si-mesmo si-outro

 

Preciso chocar com o Amor de frente

Corri dele por tanto tempo

Ele está

Simples assim

Como goteira d’água

Como cantar dos pássaros

Como massa de ar frio

Chega e se mantém

E estrupia a gente todo

Nunca se sabe quando vem

E vem

E vem com força

E vem sem demora

E vem de assalto

E leva tudo embora

 

Preciso do Amor de frente

Não pelas beiradas

Não pelo miúdo

Pelo inconcluso

Pela idiotice

Pelo escape

Quero-o inteiro

Me engolindo

E eu me alimentando dele

Nutrido e nutrição simultâneos

Não que Amor me custe a vida

Mas que me entregue a vida

Que descortina a existência

Que desabroche o melhor do agora

Não o possível e só

Pois dos possíveis eu estou farto

E é um fardo parto dor gerir isso

Quero o além

O além que está nesse Amor de frente

 


19/07/22

Série: Meus Poetas (600)

 

Bom Dia Poético com Adriana Maria Ventura

(Itabira / MG)

 

o diabo caminha sorrateiro

por entre as fendas

das portas

lá fora,

uma mulher lava as calcinhas

com a mesma devoção

que cristo lavava os pés

dos apóstolos

os tiros perdidos têm endereço certo?

contam que,

sem saneamento básico

um homem não vive

e nem falaram de amor

esse bichinho que corrói

as cartas no fundo das gavetas.

 

 


18/07/22

Série: Meus Poetas (599)

 

Bom Dia Poético com Eduardo Tornaghi

(Rio de janeiro / RJ)

 

Quatro trovas para um grande amor

 

Antes...

Meu amor é delicado

delicadamente amor

amor de beijo roubado

te aguarda pra ter sabor

 

Instantes...

Meu amor é delicado

delicadamente amor

dele é o futuro e o passado

presentemente é ardor

 

Durantes...

Meu amor é delicado

delicadamente amor

carece todo cuidado

facinho azeda o humor

 

Constante...

Meu amor é delicado

delicadamente amor

nem pronto nem acabado

te guarda pra ter sabor

 

 


17/07/22

Série: Meus Poetas (598)

 

Bom Dia Poético com Ana Sandra

(Maceió / AL)

 

Meu vazio intrínseco

teu surrealismo

beira a

inexploradas

preciosidades

e o balanço

vai ficando

mais brando

porque tua inclusão

já é inteira

como um gato

no telhado

querendo descer

para um improvável afago.

 

16/07/22

Série: Meus Poetas (597)

 

Bom Dia Poético com Jorge Ventura

(Rio de Janeiro / RJ)

 

EMOLDURADOS

a laranja cortada a faca
sobre a mesa (gomos e gumes)
não exala mais o cheiro das manhãs

móveis da sala cozinha e quarto
abrigam tardes e noites imóveis
como cestas de nozes e avelãs

restam flores palavras secas
migalhas rostos tristes
expectativas inanimadas

afora o sol pela porta pintada a óleo
o
silêncio dos olhos e a certeza
de que a natureza agora é morta

 


15/07/22

Série: Meus Poetas (596)

 

Bom Dia Poético com Rubermária Sperandio

(Rio de Janeiro / RJ)

 

Cisão 

 

Ninguém é tão diferente,

por natureza,

antes de se olhar no espelho,

magistralmente trincado.

Olho para os fragmentos 

e pergunto quem sou. 

Um saco de almas me responde:

Miserável! Imbecil! Verme! 

Poeirinha cósmica!

Não há consenso.

 

 


14/07/22

Série: Meus Poetas (595)

 

Bom Dia Poético com Jorge Amancio

(Brasilia / DF)

 

LÉ COM LÉ, CRÉ COM CRÉ

filósofo

hip

nótico

renato

..........(

..........fac

..........símile

..........um

..........nato

..........negro

..........)

noguera

certeiro

sal

tim

banco

contra

mal

ogro

dis

...........sol

................ve

............pro

penso

triste

trilha

d

colonial

re

invenção

.............vida

íntima

com

fluência

idílio

...........human’

...........idade

re

nasce

...........filo

...............só

...........fico

afeto